Blog Centro Universitário - Moura Lacerda



História da Instituição Moura Lacerda

 

 

Meados de 1923. Ribeirão Preto atravessava uma fase de intensa atividade econômica. A agricultura preparava-se para os grandes surtos de 1926 e 1927. Os cafesais produziam muito e a vida dos negócios crescia sempre, em agitação febril. Multiplicavam-se os Bancos, onde se realizavam régias transações, com bases firmes nas frutas preciosas da rubiácea fecunda. E, a praça da Cidade, Rainha, então indiscutida da “Terra Roxa”, era depois da de Santos, a mais importante e famosa praça onde o dinheiro corria, farto e fácil, com reflexos profundos em todos os aspectos da existência local.

Em um ambiente assim, de tanta vitalidade comercial, de realizações que se restringiam ao campo das cousas úteis e terrenas, quase não havia margem para as questões do espírito, para os problemas da educação, ou clima para as iniciativas referentes à formação profissional do homem, em bases racionais e científicas. Era natural mesmo, para aquele tempo, que assim fosse: o café rendia, o café gerava fortunas, o café empolgava. Para que deter a atenção no que não fosse o café?

Os estabelecimentos de ensino que se multiplicavam depois do crack de 29-30, se limitavam, quase somente, ao antigo Ginásio do estado, ao Colégio Metodista, ao Colégio Sampaio, e a uma ou outra instituição particular de menor vulto.

Mas, já era tempo de se cuidar, seriamente, do assunto. O próprio meio sentia necessidade disso. A imprensa pregava, a todo instante, as vantagens da educação técnica, e, como consequência da campanha, entrava em funcionamento, em 1927, a Escola Profissional Secundária Mista, hoje, Ginásio Industrial. E, uma outra tentativa também já aparecia para a instalação de Cursos Comerciais, tentativa que, pouco depois, não criava corpo ou definhava, sem mais proveito e glória, apesar dos esforços enormes e da inteligência dos que o lançavam, como batedores ousados e dignos de um campo novo.

Foi por essa época, Junho de 1923, que apareceu em nossa terra, um moço cheio de entusiasmo e de esperanças, que atraído pela fama de nossa riqueza e pelo vulto de nossos negócios, pretendia montar aqui, uma Escola de Comércio. Era Djalma Porto. Vinha de Rio Claro, onde funcionava com êxito um Instituto Comercial, a cujo corpo docente pertencia, e que era dirigido pelo Doutor Artur Lucchini Bilac e filiado ao Instituto Comercial do Rio de Janeiro, que tinha a direção superior do dr. Hermann Fleiuss.

Com Djalma Porto, viera Mauricio Camargo, guarda-livros diplomado, jovem bondoso e competente, que praticava também imprensa. Procurou o emissário rio-clarense, desde logo para fazer a penetração no meio, entrar em contato com elementos locais em atividade no magistério, explicando-lhes o plano em vista, em que havia em revérbero de fantasia, e solicitando para o mesmo o apoio e a colaboração que o cometimento que ia empreender exigia. Centro comercial, fundado num empirismo caboclo e audaz, era natural que aí florescesse e vingasse o ensino de comércio, em moldes racionais modernos ou científicos, como existia em outros centros.

Tendo louvado a ideia, passou o relator desta súmula histórica a ser um dos cooperados iniciais do educador recém chegado , regendo a cadeira de Matemática e exercendo as funções de Secretário ao lado dos professores como Dr. José do Rosário, Dr. Renato Camerini, Egon kicheviski, João Miranda e dona Mariana Matos, que constituíram a equipe com que se apresentou ao público local a “Escola do Comércio Rui Barbosa”, denominação mudada, mais tarde, para Instituto Comercial de Ribeirão Preto.

Ao final de cinco meses, em novembro de 1923, Djalma Porto retorna para Rio Claro e em seu lugar vem Antônio Furtado Medeiros, português de nascimento e pessoa de confiança de Artur Lucchini Bilac.

Furtado de Medeiros era uma figura interessante, que faz jus a especiais referências no instante em que lançamos o olhar comovido para o passado. Era um lusitano alto, imponente, culto, de palavra fácil e eloquente. Bondoso sempre de gesto largo, mas quando preciso, muito mais enérgico e ríspido do que o necessário.

A vida na escola, era para a diretoria um corpo a corpo permanente e terrível. O custeio tornava-se cada vez mais dificil, sendo os professores mal remunerados e em atrazo, pouco produziam e a matrícula não correspondia.

Em 1924, forma-se a primeira turma, em seção solene, paraninfada pelo dr. João Rodrigues Guião, prefeito municipal e que era uma das pessoas mais representativas da nossa cidade, sempre disposto a amparar as boas causas ou prestigiar as inicitivas úteis.

Entre os graduados daquele tempo, encontrava-se um moço inteligente orador da turma, cheio de ânimo, cuja simplicidade ocultava uma disposição e uma energia fora do comum, trabalhando de dia e estudando a noite. Era o contador Oscar de Moura Lacerda, a quem estava reservado um papel relevantíssimo nos dias futuros da Instituição e nos destinos educacionais da própria localidade.

Em 1927, Furtado Medeiros apresentava sua saúde debilitada e a escola com problemas financeiros. Diante dessa situação, o prof. Oscar de Moura Lacerda adquire o Instituto Comercial Ribeirão Preto e assume a direção, disposto a converter em realidade o empreendimento que foi lançado em 1923.

Ainda nesse mesmo ano, o Instituto Comercial localizado em um edifício majestoso, no coração da cidade situado a rua Amador Bueno, no encontro com a rua Lafaiete, foi transferido para a rua Duque de Caxias, na Praça XV de Novembro, tornando-se a Escola Técnica do Comércio, conduzida pelo dinamismo de Dr. Oscar de Moura Lacerda que tornava o aluno um especialista contábil, capaz de atuar em qualquer empresa.

Logo em seguida e no mesmo lugar, surgia a Faculdade de Ciências Econômicas, que ficou famosa na época pelo teor de bacharéis que diplomava. Outras escolas e cursos , dos mais diversos níveis inclusive Superior, foram surgindo para atender as novas necessidades de um época em que o desenvolvimento cultural-científico despertava nas populações, o desejo de novas aptidões.

Assim, uma rede de estabelecimentos de ensino se constituiu em nossa cidade, colocando a Instituição Universitária Moura Lacerda, entre as organizações mais notáveis do Estado semeando a preparação integral do cidadão, na era de conquistas por novos mundos, contemplando o passado com orgulho, o presente com segurança e o futuro próspero na certeza que muito se poderá realizar pelo próximo, no reconhecimento de seus serviços prestados à comunidade.

Extraído do processo de mudança de denominação da Faculdade de Ciências Econômicas, datado de Rio de Janeiro, fevereiro de 1927.